110 Anos - 16 de Setembro: Comemorar o quê?

Caminhava em direção à minha residência, desviando dos buracos do caminho de terra mal-cuidada, em plena área central da cidade. Foi quando me deparei com uma cena degradante. Um jovem usuário de crack disputava comida com um cachorro no lixo esparramado na calçada. Continuei a minha caminhada, atento aos buracos do caminho, com medo de torcer o pé (e ter de ir ao Hospital local, imerso em dívidas e sem condições dignas de receber os pacientes). Uma fumaça constante ardia os olhos e atrapalhava a visão.

Foto meramente ilustrativa - enviada por leitor.
Não somos contra a defesa da mulher, somos contra o clientelismo barato
que toma conta da cidade, e que serve única e exclusivamente de auto promoção.
Repare na camiseta com a Mulher Maravilha.
Será que a mesma se julga assim ? Muito triste, muito triste.

Dava-se a impressão de que a cidade pegava fogo. A escuridão da rua (todo o município é escuro) era aterrorizante. Um fio de luz saía pelos poucos postes elétricos existentes ali. Outro jovem, aparentemente drogado, me abordou na porta de meu prédio e me pediu (mas, na verdade, ameaçando) dinheiro para “comprar leite”. Respondi alguma coisa e entrei rapidamente para dentro de casa. O rapaz ficou resmungando, mas não ouvi o teor das maledicências. Já dentro do apartamento, ouvia música e barulho de discurso. “O Grande Irmão zela por ti” é o que faltava ouvir do som amplificado.

Não se está diante do cenário catastrófico descrito na obra 1984, de George Orwell. Estamos no mês de setembro do ano de 2011. Moro a poucos metros da principal avenida de Itaúna, a Jove Soares. A calçada de que falei não é concretada, é terra pura. Se um cadeirante quiser passar por lá, vai ter de desviar pela rua (pois não dá para transitar), correndo o risco de ser atropelado pelos automóveis que correm em alta velocidade. A iluminação é um fiasco. Não há postes suficientes e a penumbra assusta qualquer transeunte que arrisca a passar por aquela região.

Itaúna vive um caos geral. Ruas esburacadas, péssima iluminação pública, falta de opções de lazer, fortes denúncias de corrupção. O Executivo apenas se defende dos escândalos passados e se prepara para o próximo que vier. O Legislativo é inoperante. Parece até a política do: “quanto pior, melhor”. Os cidadãos aguardam passivamente o próximo pleito eleitoral, à espera de um salvador da pátria. E, o que é pior, várias pessoas sem experiência administrativa estão se candidatando a esse posto.

Enquanto isso, as comemorações são ofuscadas por uma bala perdida que atinge uma adolescente (a insegurança pública, apesar do esforço sobre-humano da Polícia, está num patamar assustador) e ecoa a voz do “Grande Irmão” a nos proteger. Resta dormir.

Mas, enfim, dorme-se com todo esse barulho?

Texto enviado por leitor, contribua você tambêm.